Zero Hora - 21/09/2003
O empresário Fábio Henrique garante que já andou nas trevas. E não foi uma única vez. A última foi em 1997, quando a saúde financeira de sua em-presa ficou tão debilitada ao ponto de quase sucumbir. Ele atribui a crise a uma série de investimentos mal calculados e prematuros. Chegaram a ser 122 cheques devolvidos duas vezes, 39 títulos protestados ao mesmo tempo, salários atrasados, limite de conta corrente estourado em três bancos, crédito cortado nos principais fornecedores e muitos outros problemas, conta Henrique.
Segundo ele, "as coisas vão acontecendo e quando se dá conta a casa já caiu ou está prestes a cair". E as dificuldades só aumentam o desespero. Pois o administrador de empresas valeu-se dessas experiências para escrever o livro Tire sua Empresa das Trevas, lançado mês passado pela Editora Espaço do Autor, de São Paulo. Henrique contou a Zero Hora as proezas possíveis para salvar um em-preendimento.
(Deíse de Oliveira)
Zero Hora - O que, em geral, faz com que as empresas entrem no vermelho?
Fábio Henrique - Os fatores mais comuns são a retração do mercado, gerando queda nas vendas, a concorrência, a globalização, a inadimplência, a concessão indevida de crédito, problemas na geração de caixa, excesso de investimentos ou investimentos mal planejados, endividamento alto e incompatível com as receitas e o crescimento repentino nas vendas, gerando falta de capital.
ZH - Quais são os principais erros dos empresários?
Henrique - A falta de controle (acompanhamento dos resultados mensais), os custos altos, a falta de acompanhamento do fluxo de caixa, a concessão de crédito para empresas endividadas e prestes à concordata, o pagamento de altas taxas de juros e o cálculo inexato do custo de produção ou a absoluta falta dele. Mistura de contas particulares com as da empresa, retirada dos sócios em valores incompatíveis com as receitas da empresa, além da falta de conhecimento do ponto de equilíbrio da empresa, também são fatais.
ZH - O que deve ser encarado como um alarme de que há algo de muito errado na empresa?
Henrique - O empresário deve estar muito atento aos resultados mensais da empresa, ter um bom e rígido controle, pois quanto antes o problema for identificado, mais fácil será sua solução. Ele deve ficar atento também à capacidade de geração de caixa da empresa, porque, notando que a empresa não está conseguindo gerar caixa, já deve começar a tomar medidas. E quase certo que, caso ele não faça nada, em breve a empresa ficará sem caixa e os problemas serão outros. Um grande erro é analisar a empresa pelo saldo bancário, pois quando chega a zero, a empresa pode já estar quebrada. O saldo bancário igual a zero significa apenas a pontinha do iceberg.
ZH - Qual é o limite do tolerável num processo de crise?
Henrique - O tamanho do endividamento, comparado ao lucro atual da empresa. Ou seja, caso a dívida seja de R$ 300 mil e seu lucro mensal de R$ 3 mil, será praticamente impossível liquidá-la. Esse limite depende de cada negócio, mas você deve tentar de tudo. Só que existem casos que não têm mais jeito, a brincadeira já acabou. É fundamental ter atenção e coragem, porque, se continuar a ter prejuízo depois de todas as tentativas, o negócio deve ser fechado. Caso contrário, você poderá atingir um nível de endividamento insustentável e acabar perdendo todos os bens que levou anos para amealhar.
ZH - E quando o endividamento já é uma realidade, como tirar a empresa do sufoco?
Henrique - A primeira coisa a ser feita é admitir que se tem um problema. Antes de se preocupar com as dívidas é necessário que se entenda o porquê delas. Ô que está errado? Se o empresário não estiver consciente, poderá até iniciar um processo de negociação, mas a empresa não terá capacidade para quitar as parcelas. Detectado o problema, é fazer com que a empresa volte a ter lucro e a gerar caixa, para iniciar as negociações. Mas vá devagar. Uma vez que já esteja sem crédito e com o nome sujo, para que correr, e não conseguir nada?
ZH - Por onde começar? Quais devem ser as primeiras providências para sanar as dívidas?
Henrique - As despesas financeiras devem ser atacadas de imediato, devido ao alto custo dos juros. Ou seja, cheque especial e empréstimos devem ser renegociados principalmente com os bancos e as administradoras de cartão de crédito. Aí sim, o empresário terá fôlego para começar a quitar o passivo negro. Em determinados casos de endividamento, a única solução é a suspensão dos pagamentos dessas despesas por um curto prazo, única forma de poder respirar um pouco para depois iniciar as negociações.
ZH - Para quem já está endividado, pedir dinheiro é inevitável?
Henrique - Geralmente, quando se está endividado não se tem crédito. Sendo assim, fica difícil conseguir capital. O importante é identificar se a empresa ainda é viável, porque, caso contrário, vai apenas tomar novos empréstimos e acabar aumentando a dívida. Caso o negócio ainda seja viável e o empresário consiga capital com taxas baixas, é sempre um bom negócio.
ZH - Qual é a melhor forma de se conseguir dinheiro atualmente?
Henrique - São duas situações: dinheiro para investimento, quando a situação está boa é mais fácil de obter. Já dinheiro para alimentar a empresa com o nome sujo, vai ser praticamente impossível. Em alguns casos, o melhor é tentar ampliar ao máximo os prazos de compra, para trabalhar com o dinheiro do fornecedor. Muitos fornecedores trabalham com taxas baixas para períodos maiores.
ZH - Dispensar pessoas é uma medida muito comum em período de crise. Esse caminho é mesmo necessário? Como eleger quem dispensar?
Henrique - Depende do problema. Se a empresa tem despesa financeira maior que o lucro, mas o quadro de funcionários é justo, não há motivos para dispensas. Se ainda assim demitir, a empresa perderá sua capacidade de produção e o problema apenas aumentará. Já em casos em que as vendas desabam e o faturamento cai, com mão-de-obra ociosa, é preciso cortar. Neste caso, é preciso fazer um estudo detalhado sobre todos os funcionários. Um bom caminho seria iniciar os cortes pêlos que fazem parte do problema.
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